segunda-feira, 27 de outubro de 2014

RECRIAR VALORES. Euro Zanuzzo.

RECRIAR VALORES.
Euro Zanuzzo.
            Profundas são as preocupações do azul céu e do verde mar. Profundas e coloridas. Não sou profundo, nem raso. Mas digo por minha cor, de cor.          Amo-me, pois sou terra. Amo-me, pensamento rasteiro, andante cigano e ardiloso, às voltas e os confins. Eu tenho os olhos cor da terra e desta cor sou dono.
            Digo ou escrevo, não para que todos ou poucos o compreendam, nem a estes ou àqueles. Menos, para polêmicas acadêmicas, púlpitos de pregadores e, Deus me livre!, da insana gralha política. Anárquico confesso conflito sou.
            Essência apenas uma seria, adormecida no armário das substâncias, pequeno frasco de alquimia mal experimentada em formulações da diversidade, todas respeitosas da decantada teoria tão popular e democrática de uniformidade, jamais acontecida e praticada. Trabalho, tolerância.
            Peso e medida eu serei, do ato e o fato, onde haja razão do contraditório, cotidiana louvação e pecado, recipiente ao limite de conteúdo, ora sobra, ora empenho. Humana e aleatória diferença e condição. Oração, constância, caridade.
            Antimatéria do ser, oculto e negro buraco, soma de cores ausentes no rutilante disco rodante da existência. Pensada rima do nada, eu seria, falseando geométrica e clássica poesia. Verso branco, curvo e balouçante, corda bamba, de mal calculada hipotenusa no entorno espaço-tempo. Mera e insignificante hipótese. Tolices.
            Filo, amigo do quilo sou, gordo comilão de filosófico cardápio e farta dieta confortadora, terna e doce renúncia a tudo que de insosso for e acontecer. Guloso!
            Letra apenas sou.  Pena e tinta. Trôpega e irrequieta, mesquinha e careta. Fazendo de conta. Sem cor, sem temas.  Pena de dar pena, tamanha e tal a prepotência. Ora mancha!..,  Tinta sem pinta. Ora Retinta.  Nanquim!
            Voz da criança sou, recordando caramelos e valores esquecidos em todos nós. Voz da infância, com todas as suas ranças, manhas e bardas. Infantilidades e inocências perdidas pelas esquinas da existência, bifurcações, descaminhos... Cantiga!
            Dito do velho sou. Velha roseira mestra, visionária sementeira, presa de sono e sonhos, desfolhando pétalas e perfumados provérbios de outono. Antigas crenças, medos noturnos. Mofos, cinzas e rugas. Buquê de tentações e renúncias.
            Voz por vós. Por mim. Marrons, roxos, tímidos e frouxos, refratários e acabrunhados; parvos, pardos, parcos e obscuros, fartos e prenhes de tantas agruras e temores. Salmos e provérbios ouvirão em suave música de acalentada profecia reveladora.  Humildade. Clamor. Coragem.
            Relva rasteira sou de uma seara sofrida de exílio consentido. D’onde cresce uma saudade e fenece outra tristeza. Rincão sombrio, ermo e ermida de estranho aguardo e turvo espectro. Rezas de pesar e penitência por um almejado devir.
            Pensar pulsar sonoro serei na relativa curva de cósmica harmonia, viajante sem prumo, pautas e rumos, feito pássaro liberto ao sinfônico vento estelar, no léu do tempo, nos quadrantes do azul cantante, batendo asas com a liberdade, sem destino e observâncias. Amor. Salvação. Fé.
             Mesmo que os voos de pseudociências teimem em nos endeusar, a consciência nos prenderá sempre a diferenças do saber e o conhecer. Amemos, então, a terra, que nos foi dada, pois que a ela tornaremos sempre, para um último e sagrado pouso.
            E, quando eu não mais for, que digam e escrevam à lousa qualquer donde for lançado,Ele tinha os olhos da mesma cor desta terra que amava ingenuamente.”
            Eis que, em toda morte com amor, há uma recria.  Um novo pacto, cativo moto, abençoado pelo Senhor dos tempos e todas as searas. Um ir para ser. Não mais outrora. Sim, nova aurora. Luz !                             Para Você, amada esposa Ana, luz que já és!

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