RECRIAR
VALORES.
Euro Zanuzzo.
Profundas são as preocupações do azul céu e do verde mar. Profundas e coloridas. Não sou profundo, nem raso. Mas digo por minha cor, de cor. Amo-me, pois sou
terra. Amo-me, pensamento rasteiro, andante
cigano e ardiloso, às voltas e os confins. Eu tenho os olhos cor da terra e desta cor sou dono.
Digo ou escrevo, não para que todos ou poucos o compreendam, nem a estes ou
àqueles. Menos, para polêmicas acadêmicas,
púlpitos de pregadores e, Deus me
livre!, da insana gralha política. Anárquico confesso conflito sou.
Essência apenas uma seria, adormecida no armário das substâncias, pequeno frasco de alquimia mal experimentada em
formulações da diversidade, todas
respeitosas da decantada teoria tão popular e democrática de uniformidade, jamais acontecida e
praticada. Trabalho, tolerância.
Peso
e medida eu serei, do ato e o fato, onde haja razão do contraditório, cotidiana louvação e pecado, recipiente ao limite de conteúdo, ora sobra,
ora empenho. Humana e aleatória
diferença e condição. Oração, constância,
caridade.
Antimatéria do ser, oculto e negro buraco, soma de cores ausentes no rutilante disco rodante da existência. Pensada rima do nada, eu seria, falseando
geométrica e clássica poesia. Verso branco, curvo e balouçante, corda bamba,
de mal calculada hipotenusa no entorno espaço-tempo.
Mera e insignificante hipótese. Tolices.
Filo, amigo do quilo sou, gordo comilão de filosófico cardápio e farta dieta
confortadora, terna e doce renúncia
a tudo que de insosso for e acontecer. Guloso!
Letra apenas sou. Pena e tinta. Trôpega e irrequieta, mesquinha
e careta. Fazendo de conta. Sem cor, sem temas. Pena de dar pena, tamanha e tal a prepotência. Ora mancha!.., Tinta sem
pinta. Ora Retinta. Nanquim!
Voz da criança sou, recordando caramelos
e valores esquecidos em todos nós. Voz da infância, com todas as suas ranças,
manhas e bardas. Infantilidades e
inocências perdidas pelas esquinas da existência,
bifurcações, descaminhos... Cantiga!
Dito do velho sou. Velha roseira mestra, visionária sementeira, presa de sono e sonhos, desfolhando
pétalas e perfumados provérbios de outono. Antigas crenças, medos noturnos. Mofos, cinzas
e rugas. Buquê de tentações e renúncias.
Voz por vós. Por mim. Marrons,
roxos, tímidos e frouxos, refratários e acabrunhados; parvos, pardos, parcos e obscuros, fartos e prenhes de tantas agruras e temores. Salmos e provérbios ouvirão em suave
música de acalentada profecia reveladora. Humildade. Clamor. Coragem.
Relva rasteira sou de uma seara sofrida de exílio consentido. D’onde
cresce uma saudade e fenece outra
tristeza. Rincão sombrio, ermo e ermida de estranho aguardo e turvo espectro. Rezas de pesar e penitência por um almejado devir.
Pensar pulsar sonoro serei na relativa curva de cósmica harmonia, viajante
sem prumo, pautas e rumos, feito pássaro liberto
ao sinfônico vento estelar, no léu do tempo, nos quadrantes do azul cantante, batendo asas com a liberdade, sem destino e
observâncias. Amor. Salvação. Fé.
Mesmo que os voos de pseudociências teimem em nos endeusar, a consciência
nos prenderá sempre a diferenças do
saber e o conhecer. Amemos, então, a
terra, que nos foi dada, pois que a
ela tornaremos sempre, para um último e sagrado pouso.
E,
quando eu não mais for, que digam e
escrevam à lousa qualquer donde for
lançado, “Ele tinha os olhos da
mesma cor desta terra que amava
ingenuamente.”
Eis que, em toda morte com amor, há uma
recria. Um novo pacto, cativo moto, abençoado pelo
Senhor dos tempos e todas as searas. Um ir para ser. Não mais outrora. Sim, nova aurora. Luz ! Para Você, amada esposa Ana,
luz que já és!
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