sábado, 3 de janeiro de 2015

RIO CAÇADOR

Euro Zanuzzo.


         O presente artigo foi escrito por mim a pedido do Grupo Maiká, ano de 1997 (?!), para ser usado como um Manifesto à população de Seara, em campanha contra a poluição no Rio Caçador, que corta o centro de Seara. Não recordo do Grupo, pessoas, quem?!..,mas, a eles parabéns pela atitude, e como este problema ainda permanece, infelizmente,  mesmo em menor escala, muito bom seria a continuidade deste trabalho de preservação seja feito por alguma entidade,  e o registro, como segue:


         Um Rio, é uma dádiva de Deus, é um presente para as pessoas que tem o privilégio de o terem próximo a si.
         O nosso Rio Caçador é assim, dádiva, presente benéfico, nossa garantia de bem estar.  ELE, que tem a sua nascente junto a Linha Água Bonita, cerca de 5 (cinco) quilômetros apenas, a Norte do centro de Seara, rio de muitos peixes e águas límpidas, foi uma referência máxima pra que se estabelecesse a Sede de Nova Milano, centro das terras da Colonizadora Rio Branco Ltda., hoje centro de Seara.
         Rio Branco, Água Bonita, tudo isto hoje não passa apenas de um referencial, de um endereço daquilo que na realidade nós, Searaenses, tornamos um rio-esgoto a céu aberto, uma via cloacal à mercê da miséria de nossos interesses financeiros e do nosso estúpido desleixo e criminoso procedimento.
         Como não bastasse a imundície humana despejada em nossos rios, ativamos todas as imagináveis pocilgas, estrebarias e galinheiros, às margens de nossos rios e riachos, tornando os nossos cursos limítrofes naturais, limites de nossa mesquinha ousadia de insensatez mal cheirosa e pútrida.
         Mas, dirão alguns, para que um vocabulário tão forte?!... SIM, pois necessário seria que passássemos algum tempo presos, detidos, mas não em uma cadeia normal, mas no “WC” dela, sem esgoto e sem ventilador, para pagar o crime que contra os nossos rios cometemos. E isto não é só problema do Rio Caçador e do Centro de Seara. É de todo Município.  Tornou-se prática comum e regional.
         O Rio Caçador nunca foi isto que hoje vemos. Ele não é assim. Nós é que assim o transformamos. Os nossos colonizadores e até duas décadas atrás usávamos o rio como fonte de alimentos, piscinas na ordem natural, área de recreação e lazer, açudes e canais para força motriz geradora de energia, poços naturais fundos para prática de natação.
         Nas suas margens fazíamos piqueniques. O rio era farto de pesca e fornecia alimento suficiente de peixe para várias pessoas com alguns minutos de pesca manual e rudimentar. Os nossos colonizadores respeitavam o Rio. Não pescavam fora de época, não jogavam detritos no rio, lixo e tudo que é porcaria que não queremos mais em nossas casas. Não construíam às margens, respeitando medidas legais e sensatas. Não desmatavam as margens que continham o assoreamento. Não espremiam o rio com muros e construções. Respeitavam o seu leito natural, por onde ele corria levando os nossos sonhos de futuro e toda a sua poesia.
         Nosso Rio Caçador, galopante mensageiro das nossas paragens, hoje caçado e cassado. Rio morto, rio deposto, riacho..., sem vida, sem nome, sem águas, tão feio quanto a nossa “falta de vergonha”.
         Searaenses, é tempo de perdão. Do renascer. Do libertar a vida aquática encarcerada, de ver fluir um curso natural das águas, a beleza, a poesia. Limpar, arborizar, recolher o lixo, acabar com esgotos e construções irregulares, respeitar distâncias mínimas, determinar demolições, desativação de chiqueiros que não respeitem normas. Exigir fiscais municipais fixos que atuem e autuem efetivamente cobrando as respectivas multas e documentando os fatos, tudo sob o manto e mando da Lei, da ordem e da justiça. Pois o Poder Público somos nós. Os partidos políticos somos nós que os fazemos e elegemos a representação. Os Searaenses somos nós, ou serão quiçá outros ?!..., Searaenses, então, sejamos. Seareiros, no exato cumprimento e teor da palavra a construir uma nova seara, respeitada e limpa, ou ratos e cupins de uma indesejada seara de antanho.



Pranto à cabeceira.

Euro Zanuzzo.

Dobrai,
Cantai riachos,
Nas dobras, nas bordas dos vales.
Que à volta, à volta sob o sol,
As pedras quentes, suspiram...

         E ide, límpidas nascentes,
         Carregando a doce melancolia
         De vossa sinfonia mensageira!
         E aos cantos da terra contai...
         Bacias, grandes rios de outras terras,
         Foi, bem distante, além das serras.., que
         Um poeta, assim falou.,

“Leva
O meu pranto em teu canto,
Canção feita mágoas sem fim!
Consolai-me,
oh! lágrimas, águas...
Rolando,
Chorando por mim!”.

         E, triste,
         E infeliz pobre poeta,
         Ali morreu, cantando assim...


*-Ali, bem próximo àquela curva de rio, na confluência do Toldo com o Caçador, dizem.., coloridas e pequenas flores teimosas vicejam as margens daquelas águas chorosas e murmurantes, onde vaga a alma daquele poeta! *

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