Trabalho de Searaenses pela emancipação Searaense.
Relato que faço ao meu modo, circunstanciado pelo meu
tempo de vida e que me permitiu ver a saga, a luta, a persistência de uma gente
sofrida e trabalhadora, humilde de procedência e de modo de ser e ver o mundo.
Mas por qual razão digo isto?!
Porque “neste país”, como é costume ser dito por “tal”
partido que pensa que “tudo fez”, as novas gerações que aí vêm não tem
conhecimento ou fazem de conta que não sabem ou mesmo nem o querem saber. Acham
que TV, internet e computador sempre existiram, nunca fizeram uso de um urinol
ou pinico, do banho de gamela, possui água encanada, energia, telefone celular “faz
de tudo” via satélite. Supermercado e shopping suprem o que hoje desejam e que
vinha da roça, do campo, da loja única, de distâncias por picadas feitas a pá e
picareta, carregando mercadorias em lombo de burro. Nunca ouviram falar de
diferenças entre bola de bico e de válvula, de marcha sincronizada e em dois
tempos, de jardineiras, do Gostosão do Farina descendo a Serra do Juriti, do
ônibus do Peixoto e da ponte do Rio Engano. Senhor! Dio de poaretti!...(Deus
dos pobrezinhos!).
Bem ! Nem queria falar do óleo de rícino, do sal
amargo e do bálsamo alemão. Seria bom que todos tomassem uma dose para sentirem
um pouco do sabor de um tempo de “dificuldade sorridente e feliz”.
Seara, dizia meu Pai Herculano, é como uma bela
mulher, de curvas estonteantes, caprichosa, difícil de convencer e conquistar.
Mas não se desiste nunca!
Ora, a presente documentação a expus pela primeira vez
no ano de 1985, em álbum sequencial, por ocasião dos festejos de 31 anos de
emancipação, ocasião em que também escrevi uma breve homenagem a João Nardi,
amigo de meu Pai, vizinhos no campo santo e falecido naquela época. Jesus,
Maria, José!, era sua jaculatória. Ora, renovo o exposto de igual forma, “idem
et ibidem. Por lembrar João Nardi, quando a municipalidade vai resolver
devolver um parque de exposição com seu nome?!. Não entendo uma terra de
produção como Seara, sem um “belo” Parque de exposições. Entendo necessidades
outras, mas por agora, já seria em bom tempo, encontrar outra paragem, também!
Outro particular desta mostra trata-se de um escrito
de punho de meu Pai, declarando que Ferdinando Kirchner, prático agrimensor da
Colonizadora Rio Branco, foi o primeiro morador a se estabelecer em Seara
(1924), aparecendo uma pequena foto do mesmo quando jovem e outra junto ao meu
Pai, já em idade avançada.
Daí então na sequencia, vocês verão discriminados,
bens e valores que hoje nem mais se contam, demorados, dificultados e
minuciosos procedimentos, mas principalmente nomes de pessoas, gente de nossa
gente, assinaturas e citações de antepassados da tua origem, alguns poucos
ainda presentes e que irão te encher de orgulho, pois trabalharam e deixaram
para ti esta bela herança e legado que hoje chamamos “doce, sorridente e
feliz”, SEARA !
Também o faço, em homenagem a minha Mãe Adorilde Zanuzzo,
na véspera de seu 90º aniversário, 02 de julho, ela eximia datilógrafa formada
pela Escola Remington, protagonista deste tempo e conquista, designada para
registrar e datilografar toda documentação ora exposta.
COMISSÃO
PRÓ-EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SEARA
DOCUMENTAÇÃO
ENCAMINHADA À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO
Visando a emancipação do Distrito de Seara para a condição de Município, a Comissão Pró-Emancipação de Seara, encaminhou à Assembléia Legislativa do Estado para a apreciação dos Senhores Deputados, ampla e farta documentação contendo dados sobre o Distrito e tecendo comparativos com os Distritos de Itá e Arabutã, Distritos estes, pretendentes a sediar um novo Município. Havia intensa rivalidade entre os Distritos de Seara e Itá, pois Itá, também pretendia sediar o novo Município, e neste caso, iria abranger o território do Distrito de Seara.
Todavia, sem demérito nenhum à nobre e laboriosa gente itaense, irmanada e convergente nos interesse maiores da busca do progresso que se nos fazia comuns, o Distrito de Itá sofrera como que uma estagnação, enquanto que Seara continuara em crescimento acelerado, ritmo a que o Itá não acompanhara, apesar da sua antigüidade e do fato de ter sido inclusive Seara, ou melhor, a Vila de Nova Milano, território pertencente à sua circunscrição no antigo Distrito do Passo do Itá, ou ainda, Vila do Passo do Itá, pertencente ao antigo Município de Cruzeiro, como então era chamado o Município de Joaçaba.
Concórdia elevara-se à condição de Município em 1934, tendo Itá neste mesmo ano mantido à condição de Distrito e mantendo Seara, ainda denominada Nova Milano, como Vila da sua circunscrição territorial. Esta nossa Vila Milano, somente alcançaria a condição de Distrito no dia 15 de março de 1944, ou seja, 10 (dez) anos após Itá. Mais um decênio se passaria e Seara, já superando Itá, estava pleiteando para si, o mérito de sediar a emancipação deste néo-município da região a ser formado.
Esta superioridade de “performance” é sobejamente demonstrada pela documentação apresentada, conforme poderemos notar na discriminação documental.
Inicia-se com um Memorial, peça esta subscrita pela Comissão Pró-Emancipação de Seara, composta pelos Srs: Dr. Harry Quadros de Oliveira; Theodoro Barbieri; Carlos Armando Paludo; Luiz Ortolan; Luiz Biondo; Jordão Moretto; Sétimo Octávio Casarotto; Biágio Aurélio Paludo; Valentim Petry; João Nardi; Honorato Zonta; Amélio Tumelero e ao final, Herculano Hércules Zanuzzo, Secretário.
Do texto deste Memorial se destaca que Seara é um dos esteios da agricultura e da suinocultura do Município de Concórdia e Estado de Santa Catarina. Aborda o sucesso da colonização procedida por colonos provenientes do Rio Grande do Sul, trazendo a mescla do laborioso povo europeu e que foram os artífices deste extraordinário fenômeno de povoamento que tivera um desenvolvimento natural e significativo, voltado para a agricultura, com policulturas, aproveitando as terras férteis e inexploradas e obtendo um amplo destaque na suinocultura.
No documento invocam os signatários dois fatores predominantes para instalação da Sede Municipal em Seara. Primeiro, a descentralização dos poderes administrativos atendendo os princípios de ordem constitucional, e segundo, de que é o pólo convergente e natural do movimento econômico da região, além de ser ponto eqüidistante de todas as demais localidades, com a distância mínima de oito quilômetros para Canhada Grande e a máxima de trinta e oito quilômetros para Arvoredo (observação: distância das estradas de rodagem de então, 1953). A seguir declara um total de 941 km2 de superfície total do projetado Município de Seara, que haveria de compreender os 443 km2 do Distrito de Itá, mais 10 km2 do Distrito de Arabutã e 53 km2 do Distrito Sede de Concórdia.
Na seqüência, discrimina os limites e anexam mapas demonstrativos das suas afirmações. Abordam requisitos constitucionais do Estado de Santa Catarina de população mínima de 20.000 habitantes e renda anual de Cr$ 300.000,00, e invocam dispositivos da Lei Orgânica n. º 22, de 14/11/47, da formação de Municípios, dando um total de 21.264 habitantes, compreendidos os Distritos de Seara e Itá, deixando de contar o acréscimo que adviria da parte do Distrito de Arabutã e do Distrito Sede de Concórdia - 1º Distrito.
Com referência ao dispositivo de renda municipal de um mínimo de Cr$ 300.000,00, faz uma estimativa de cerca de um milhão de cruzeiros – (Cr$ 1.000.000,00) de arrecadação anual do néo-município pleiteado, sendo que a arrecadação de anos anteriores, como 1951, já ultrapassara o patamar legal, com Cr$ 310.952,00; a do ano de 1952, com Cr$ 592.147,70 e ora, só do primeiro quadrimestre concluso daquele ano de 1953, já se arrecadara através da Exatoria Estadual de Seara, a quantia de Cr$ 387.980,00, dando-se a perspectiva de arrecadação superior a um milhão de cruzeiros (Cr$ 1.000.000,00), até o final do exercício de 1953.
Por sua vez, em igual período, Itá arrecadara em 1951, Cr$ 245.237,00; em 1952 Cr$ 332.917,00 e naquele 1º quadrimestre de 1953, apenas Cr$ 113.050,40, sendo que em razão destes números, vê-se uma clara diferença pró-Seara, de mais de o dobro da arrecadação fiscal, em idêntico período.
Com referência a propriedade rural, declara a existência no Distrito de Seara, de 1.300 propriedades rurais que produzem Cr$ 47.943.069,00 contra Cr$ 22.039.173,00 do Distrito de Itá, com diferença pró-Seara de mais de o dobro.
Demonstrada a solidez patrimonial do néo-município, a força de sua arrecadação superior e o preenchimento de todos os requisitos legais, requerem aos Senhores Deputados Catarinenses, a emancipação do Município de Seara ao final deste Relatório que vem subscrito pela Comissão Pró-Emancipação já nominada e datado de 18 de junho de 1953.
Corroborando o petitório, são anexados mapas demonstrativos de limites e instrui o Memorial com uma série de documentos específicos que citamos: Ata da primeira Reunião Pró-Emancipação do Município de Seara, de 08 de dezembro de 1952; Ata da Sessão Solene de Instalação do Distrito de Seara em 15 de abril de 1944; Certidão fornecida pela Prefeitura Municipal de Concórdia referente ao perímetro urbano e suburbano de Seara e Itá; Certidão fornecida pela Prefeitura Municipal de Concórdia, pela sua Agência Municipal de Estatística, declarando a estimativa de 21.264 habitantes nos Distritos de Seara e Itá no ano de 1952; Certidão fornecida pela Prefeitura Municipal de Concórdia declarando ter Seara um total de 168 estabelecimentos comerciais, contra 140 de Itá, sendo que Seara possuía: 4 alambiques; 2 açougues; 3 alfaiatarias; 1 barbearia; 4 casas de calçados; 8 carpintarias; 18 casas de comércio em geral; 1 Casa de Saúde; 2 dentistas, 16 empresas de transporte; 2 farmácias; 1 fábrica de gasosa; 8 ferrarias; 1 funilaria; 17 botequins; 2 casas de ferragens; 1 posto de gasolina; 5 hotéis com botequins; 14 mercadores de cereais; 1 médico; 5 mercadores de suínos; 6 moinhos; 9 quiosques; 1 firma de representações; 2 sapatarias; 3 casas de rádio e material elétrico; 3 casas de venda de tecidos; 1 sorveteria; 3 selarias; 11 serrarias; 11 trilhadeiras. Seguem os dados relativos ao Itá, com 28 alambiques, 2 açougues, 2 alfaiates; 1 barbeiro; 2 casas de calçados; 5 carpintarias; 13 casas de comércio em geral; 1 Casa de saúde; 1 construtor de carroças; 2 dentistas; 10 botequins; 1 empresa colonizadora; 9 empresas de transporte; 1 farmácia; 1 fábrica de gasosa; 6 ferrarias; 3 hotéis com botequim; 3 mercadores de madeira; 11 mercadores de cereais; 5 mercadores de suínos; 1 mercador de ovos; 1 médico; 5 moinhos; 3 olarias; 3 quiosques; 3 firmas de representações; 1 sapataria; 2 selarias; 10 serrarias; 4 trilhadeiras.
Em razão destes números, depreende-se a sempre superioridade econômica de Seara em relação ao Itá.
Segue-se, mais uma Certidão da Secretaria da Fazenda – Coletoria de Seara, dando conta da arrecadação de 1951, 52 e 53. Este último, nos primeiros quatro meses, como já circunstanciamos. Mais uma Certidão
com dados relativos aos exercícios de 1951 e 1952 expedidas pela Coletoria
Estadual de Seara; Certidão da Agência Municipal de Estatística de Concórdia,
declarando dos números de produção de Seara, orçados em Cr$ 47.943.069,00,
superior o dobro do referente ao Itá, e compreendida em trigo – 80.499 sacas;
milho - 405.300 sacas; mandioca com
24.300 toneladas; feijão com 13.500 sacas; cevada - 370.500 kg.; batata-inglesa – 16.200 sacas;
batata-doce – 6.810 toneladas; arroz com casca – 5.297 sacas e alfafa – 384.000
kg.
Uma certidão referente a veículos que pagam
licença de trânsito, fornecida pela Prefeitura Municipal de Concórdia em 23 de
janeiro de 1953, declara que Seara possui 29 veículos e o Itá, 15 veículos,
portanto, quase o dobro pró-Seara.
Seara possui – 13 caminhões Itá
possui - 10 caminhões
Seara possui – 02 ônibus Itá possui – 01 ônibus
Seara possui – 03 automóveis Itá possui - 03 automóveis
Seara possui – 04 caminhonetes Itá possui- nenhuma caminhonete
Seara possui – 01 caminhão reboque Itá possui – nenhum carro reboque
Seara possui – 04 jipes Itá possui – nenhum jipe
Seara possui – 02 bicicletas Itá possui – nenhuma bicicleta
Outra certidão da Agência de Estatística de
Concórdia datada de 22 de janeiro de 1953 faz uma confrontação de números de
animais existentes em Seara e Itá, no ano de 1951.
Seara possui – 40.000 suínos Itá possui – 26.000 suínos
Seara possui – 4.450 bovinos Itá possui – 4.000 bovinos
Seara possui – 2.470 eqüinos Itá possui – 2.030 eqüinos
Seara possui – 290 ovinos Itá possui – 85 ovinos
Seara possui - 415 muares Itá
possui – 375 muares
Seara possui – 70 caprinos Itá possui – 720 caprinos
Seara possui 78.000 galináceos Itá possui – 70.000 galináceos
Certidão da Agência de Estatística de
Concórdia datada de 22 de janeiro de 1953 informa que Seara dispõe de 10
serrarias e Itá 7 serrarias, sendo as de Seara pertencentes a Afonso Mariani
(Anita Garibaldi); Martino Nava (Vila Seara); Vencel Marcon (Passo das Antas);
Pedro Benetti (Vila Seara); Orestes Tóffoli (Barra Bonita); de Arlindo
Schwantes (Taquarimbó); de José Bisolo (Canhada Grande); de Atílio Martino
(Sede Floresta) e de Pedro Mariani (Santa Lúcia), sendo que estas 10 serrarias
são avaliadas em CR$ 680.000,00 e as 7 de Itá em Cr$ 390.000,00.
O Departamento de Educação de Concórdia, 29º
Circunscrição Escolar do Estado, mediante certidão datada de 28 de dezembro de
1952, informa ter Seara 23 escolas, 01 Grupo Escolar Raimundo Corrêa e um curso
complementar a funcionar, possuindo um total de 934 alunos. Por sua vez Itá
possuía 15 escolas, um Grupo Escolar, um curso complementar a funcionar e um
total de 826 alunos.
Este Memorial corroborado com farta
documentação comprobatória das condições de crianças do distrito de Seara foi
encaminhado à Assembléia Legislativa do Estado para apreciação dos Senhores
Deputados, sendo exercido um forte “lobby” por parte da Comissão Pró-formação
do Município.
Muitas viagens foram realizadas para a
Capital do Estado por membros da Comissão. Cartas, inúmeros telegramas foram
passados a políticos influentes da região, do Estado e do País.
O Sr. Herculano Hércules Zanuzzo, Escrivão de
Paz com funções de Tabelião e Oficial do Registro Civil do Distrito de Seara,
era o Secretário da Comissão Pró-formação do município.
Toda
documentação expedida para a Câmara Legislativa Municipal de Concórdia, para a
Assembléia Legislativa do Estado, para Deputados, Senadores e demais políticos
de influência, eram elaboradas e redigidas por Herculano H. Zanuzzo e
datilografadas por sua esposa Adorilde Bogoni Zanuzzo, que era Escrevente
Juramentada de seu Cartório.
Segundo declarações de Dona Adorilde Zanuzzo,
diz:- “Foram meses e meses de preparação de documentos e laudas datilografadas,
montanhas de papéis, cópias e mais cópias, correspondências, telegramas, mapas,
fotos, certidões de diversas repartições públicas, reuniões, discussões sobre a
forma de proceder, enfim o ano 1953 inteiro, nós trabalhamos por Seara e a sua
bendita emancipação. Mas valeu a pena. A felicidade, a alegria de nós todos e
do povo, compensou todo o nosso esforço, trabalho e dedicação à causa searaense
conquistada”.
DA
GUARDA DA DOCUMENTAÇÃO.
Todo o trabalho da comissão pró-emancipação
do Município de Seara era secretariado por Herculano H. Zanuzzo. Durante
décadas ele guardou toda a documentação, cópia de memoriais, cópias de
documentos, cartas, telegramas, abaixo-assinados, jornais, documentos de
tesouraria da comissão, passagens aéreas ressarcidas, relações de contribuintes
para despesas e até o troco que restou da Comissão depois da formação do
Município, permaneceu guardado em um envelope, do qual era Tesoureiro o seu
cunhado Amélio Tumelero e que restara esquecido entre a documentação, perdendo
o valor devido inflação e troca de moeda.
A guarda da documentação restou confiada a
mim, seu filho, Euro Zanuzzo, e com base na mesma elaboramos a seqüência
cronológica de nossos trabalhos, fiéis relatores de nosso passado tendo como
base tal documentação, ora passada para consulta da posteridade de nossa
abençoada Seara.
Da mesma forma, a documentação da
Colonizadora Rio Branco Ltda, livro com relação de lotes, mapas, anotações.
Também, desde a formação distrital e do Diretório Distrital do PSD – Partido
Social Democrático, foi o Secretário do Partido, redigindo as atas e demais
documentos. Todo este acervo foi guardado graças ao zelo de Herculano Hércules
Zanuzzo e Adorilde Zanuzzo.
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