sábado, 14 de março de 2015

O princípio da eqüidade.
Euro Zanuzzo
Advogado e Professor
Presidente do PL (Partido Liberal) no Município de Seara,SC.
Artigo publicado no Diário Catarinense da sexta-feira, 25 de setembro de 1992.



            Nos últimos tempos, uma série de artigos tem defendido a permanência do que sempre foi e do que esperam que sempre será.  Não desejo me pronunciar sobre o mérito disto ou daquilo nas confrontações sobre a formação do Estado do Iguaçu ou a mudança da Capital, mas sobre as razões destes questionamentos e os motivos pelos quais ás vezes nos sentimos mais iguaçuanos do que catarinenses propriamente ditos.
            O fato é que existem diferenças inegáveis. O Oeste tem 70 anos apenas e uma sofrida história-contra um litoral quatrocentão-, e somos já o que somos graças ao que somos. Contudo, catarinenses somos todos nós. Adoro a bela Ilha e os ilhéus mesmo sabendo que a História tem provado, a Geografia comprovado e até as fotos dos satélites confirmado que não temos uma Ilha ao lado de nosso Estado, mas um “barco pirata” navegando ao largo.
            As obras para nós, oestinos, se arrastam por décadas e quando algo se consegue, após muitos palanques e promessas, é como um “toma lá”, um presente, uma dádiva, uma concessão da magnanimidade governamental sediada na privilegiada e informatizada Ilha.
            Então, nos perguntamos: Será que os números representam uma realidade? Não seria talvez tempo de o Estado informar aos catarinenses de todos os quadrantes o quanto arrecada cada região e o quanto é distribuído a cada uma delas?
            Estamos a pedir integração, respeito, eqüidade e principalmente a parcimônia pública deste barco pirata espoliativo, sanguessuga com direito a canudinho e tudo o mais, agora representado por belíssimas pontes iluminadas e orofinadas, por onde esperamos passe a integração e não a “entregação” às traças do destino de tantos e não menos valentes catarinenses.
            Dar a cada um o que é seu, fazendo-se Justiça, é a isto que chamamos eqüidade. Alerta, pois, iguaçuanos do último degrau da serra! Elevemos o nosso brado. Temos consciência de que esta terra tem dono, e somos nós... Ainda estamos a reivindicar a integração, não a separação.

(Obs-Orofinadas, termo utilizado em razão do escândalo financeiro envolvendo Miguel Orofino, engenheiro na construção de nova ponte ligando ilha/continente).




A Monarquia Catarinense e os Bailes da Ilha Fiscal

Euro Zanuzzo

            Uma prática que já de muito tempo deveria estar abolida e que ainda perdura no “monárcchico regímen” das serventias catarinenses, onde o mundo dos reinados, pequenos condados e ducados da grande e vasta família das fidalguias de pais a filhos, de compadres a confrades desde que lá se estabelecera a privilegiada Desterro de Nossa Sra. da Pirataria.
            Sim, porque desterrado e ilhado se encontra o Estado. Sim, porque sempre tivemos ao largo da Costa Catarinense não uma Ilha como pretendem fazer crer sisudos historiadores com seus velhos óculos de grossas lentes, mas sim uma verdadeira “Nau Pirata” a espoliar e gravar onerosa e vergonhosamente o Estado desta laboriosa e operária gente catarinense.
            Lá se há de encontrar desde a organizada máfia funcional e fiscal estabelecida, todo o emaranhado de artimanhas dos pequenos burgos e freguesias na ordem política, estadual, federal sediada, representativa profissional, sindical, etc., e tal, proclamando-se de trabalhadores, representantes legítimos de todas essas classes, com sempre suas amplas e confortáveis sedes sociais e campestres, piscinas, quadras e salões, bailes e mordomias sustentadas por polpudos e gratificantes salários da escalada funcional a mercê de nosso sistemático pagamento de taxas, matrículas, inscrições, emolumentos, etc.
            Do sistema público ao privado, de estatais a entidades ditas classistas, associações e tudo o mais de organismos incontáveis e inomináveis onde a monárquica prática do “rei na barriga” é comum e onde liberdade, igualdade e fraternidade não passam de meras palavras que lhes pareçam tão francesas quanto Brigitte Bardot e Paris St. Germain S.C.
Mais agora neste belo exemplo público, quando nos estertores de um Final de Baile, de mandato monárquico para o voto republicano e uma nova eleição em vista, nos recriam a noiva sempre iludida, Secretaria de Negócios do Oeste, tal como se joga um osso para os cachorros no final de uma grande festa.
Interiorizam somente a falta de vergonha que abunda e grassa desde os porões da nave palaciana até o convés e as velas manobradas pelo mesmíssimo praticar do sempre de suas mentes caranguejeiras. Santa e Bela Ilha Catarina fundeada no estupor das âncoras e nas amarras de pontes históricas e tombadas, nau sem leme, sem governo, sem rumo, tal o bicho caranguejo que lhes é tão similar, não se sabendo cabeça ou rabo, proa ou popa, frente ou ré.
Enquanto isto iguaçuanos, curitibanos, praticantes de um contestado que parece jamais findar. Oeste, norte, sul, interior, planalto e restante da orla litorânea, PAGUEMOS!– Paguemos honrada e pontualmente nossos tributos à carecida e insaciável monarquia fiscal estabelecida na gloriosa capital de todos nós catarinenses !

(O presente artigo foi escrito e enviado para ser publicado pelo Diário Catarinense em 1992, mas que não foi publicado, quem sabe, por óbvias razões as quais basta ler para se entender)





Ideologias e sonhos Sulinos e Regionais

            Tudo tem a sua razão de ser, o seu nascedouro histórico, as ideias surgidas. Ao sucedâneo dos fatos, a estas razões ideológicas, agrega-se o desejo autêntico de uma Liberdade, não dividida, nem isolada, nem conduzida pela força de laços de uma legitimidade muitas vezes discutível que aí está.
            Palco de muitas divisões e lutas, o Sul do Brasil, jamais o foi Brasil no todo. Aqui reside uma consciência de origem que se difere. De um lado um sentimento caboclo, de outro um viril e corajoso procedimento gaúcho. Mito de guerreira bandeira pampiana, sustentada de lança em punho, no esvoaçar de lenços brancos e colorados, é sem dúvida, algo de um Brasil diverso, cantado no seu Passado em versos e guerreiras danças e vivido latente no seu Presente indefinido, em ideologias mistificadas nos milhares de CTGs e Centros Nativistas que povoam o Sul e se estendem aqui e lá ao longo do território nacional.
            Desde a terra encontrada, espanhola ou portuguesa, a herança de infindas lutas e entreveros fronteiriços. Uruguai, Argentina e Paraguai, muito o Sulino viveu e bebeu desta taça e deste clima de indefinição e isolamento, para que não se lhe temperasse a alma e fortalecesse os próprios sonhos de grandeza e de condução de seu destino.
            Herança dormente de missioneiros errantes do saldo de uma República Theocrática Del Guairá, povos das Missões, reduções Jesuíticas. O sucedâneo da Revolução Farroupilha (1835/45), as guerras fronteiriças e o caso Cisplatino, contendas e questões limítrofes internacionais e provinciais. O advento da República, o mando do “café com leite” até o levante getulista, a Aliança Liberal e o Estado Novo. O repente da Legalidade na discutível e internacionalizada Revolução/64. Agora, mais presente, reclamos da flagrante discriminação política, social e econômica dentro de um contexto federativo manipulado, em tudo o Sul é presente, palco de questionamentos e reivindicações, mantendo acesa e viva a chama de uma Visão Inovadora e Idealista.
            Hoje, variadas manifestações ideológicas renascem e afloram, percorrendo a amplitude sulina. Ali é o grito quixotesco de um gaúcho a erguer a bandeira de uma República dos Pampas. Mais lá, um fundamentado arrazoado sobre as questões federativas. Alma renascida do Piratini, somado a efêmera república Juliana em nossa catarinense cidade de Laguna. Cá estão reclamos de autóctones e caboclos esbulhados a requererem a devolução de seus toldos, terras e direitos. Lá sequelas da Insurreição Cabocla do Contestado retornando às suas origens e redutos, com sofridas histórias recontadas, dramatizadas e cantadas em verso e prosa.
            Soma-se o enorme contingente resultante da mescla europeia imigrante, feita em grande marcha migratória flutuante, gaúcha, catarinense, paranaense, mato-grossense, povoando e colonizando uma vastidão territorial quase imensurável. Misto da junção de sonhos e ideais de Giuseppe Garibaldi e a catarinense Ana de Jesus Ribeiro, nossa Anita. Tudo e todos partícipes como que de um novo, profético e sustentado sonho que aflora. O Povo se move. Manifesto esta o desejo, o mito e a ideologia, que só não veem os que não se permitem ver. Tudo converge para uma Nova e Necessária Ordem.
            No curso dos tempos, até os próprios cursos mudam. Há que se ver!
                                               Euro Zanuzzo. Advogado, professor, Presidente do Partido Liberal de Seara,SC. (1992). 





As questões econômicas e a consciência nacional.

Euro Zanuzzo (1992, ora reescrito)

A escravidão foi um estigma e uma necessidade em determinadas épocas do mundo e da evolução do pensamento humano, assim como a economia das nações sofrem drásticas modificações no curso dos tempos, tanto que a ascensão e a queda de Impérios é uma máxima quase que permanente na história evolutiva da humanidade. A Grécia legou ao mundo a sua cultura, calcada no procedimento escravocrata e restou conhecida e reconhecida como o chamado “berço da democracia”.
A grande e livre América da estátua da Liberdade construiu seus ideais de grandeza sobre o imprescindível trabalho do escravo no conceito de então, e este foi o modelo padrão que sustentou praticamente todas as nascentes democracias americanas. Escravidão e liberdade foi joguete de interesses da ordem política, desde a Guerra da Secessão na América, na primeira República americana do Haiti, tanto quanto no ensaio republicano Farroupilha no sul do Brasil.
Sofrida guerra que felizmente não aconteceu no Império Brasileiro em sua ordem geral. Dom Pedro II, titular de um governo escravocrata, lenta e gradualmente como o sabemos, evoluiu o seu pensamento abolicionista em consecutivas concessões para não ferir de morte a Pátria, mergulhando-a em um mar de sangue de seus patrícios, pois a nação se sustentava pelo braço do escravo e o vil interesse financeiro de seus senhores.
 Entre ver Brasil e Império naufragar tal fatídico barco em mar de sangue e destruição, optou por necessária e sábia distensão de procedimentos legais até a abolição planejada e a sabida e assumida condição de forçado embarque rumo ao exílio.
Perdeu Pedro II o trono, mas não a vida e a dignidade junto a milhares de brasileiros em guerra fratricida. Submeteu-se a sã consciência, evitando guerras e confrontos sangrentos de seu povo. Povo que ainda se ressente de veladas e estúpidas discriminações raciais no seu organismo social, mas que o bom coração brasileiro faz com que a cada dia que nasce o sol, se torne esta Pátria mais morena e maravilhosa.
 Certamente perdeu o Brasil uma Monarquia evolucionista e aberta ao mundo, bem como um reconhecido e vasto Império de invejável civilização nesta remota América, para retroagir ao de uma República que se impôs tirânica e que rapidamente minou os seus ideais com a podridão dos milhares de interesses de tantos quanto puderam fatiar o grande bolo do poder e riqueza do Rei.
As pessoas e muito mais as nações, protagonizam através de sua ação política os meios que consideram aptos a garantia de seu futuro. Getúlio Vargas e o Brasil político de então, teve na visão da nacionalização de nossos meios de produção uma alternativa válida para aquela época, mas isto não quer dizer que seja uma regra e uma opção fixa e imutável tal um dogma a salvo da pira transformadora das inúmeras teorias e doutrinas econômicas aplicadas pelos países ao longo do tempo.
Assim, a manutenção do poder das Estatais e empresas mistas brasileiras, Petrobrás, Eletrobrás, Caixa, BBrasil, ECT., e etc., com seus vícios de garantia e poder imutáveis. Assenhoreadas de uma situação de Império e Monopólio legal, sempre com preços aviltados, entre os maiores do mundo, sustentados por um Povo escravo, que é o que somos, nos parece já evoluídas o suficiente para receber o último e necessário golpe rumo ao exílio. Pedros, saibamos que é chegada a hora de embarcar-nos. Quebrar monopólios, privatizar e organizar sem perder garantias, internacionalizar para evoluir e render, administração estritamente financeira, sem ingerências de ordem política, é a ordem da inteligência econômica que atende melhor ao interesse do país. Percam estes pequenos Reis seus postos, mantendo a dignidade, brasileiros que se dizem.
Todavia, uma vez quebradas estas primazias econômicas que estrangulam a economia do País pelo mau gerenciamento institucionalizado, que não se fatie ou substituam o poder negociado em imperiais quitandas de bananas a este e aquele, republiquetas oligárquicas de escusos interesses a explorar a fome histórica que abate e vitima a dignidade brasileira. Comecemos a cuidar de nosso quintal, que já é tempo, antes que percamos quintal e a própria casa!
 Desde a Petrobrás, Petro quiçá de Pedro, e brás da brasileira Isabel, filha Redentora, mais uma vez se faz donzela de novo exílio e martírio político. Que se derrame o negro ouro lapidar que sustenta as bases da moderna economia, mas que realmente o seja, por um áureo e promissor Brasil !

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