O princípio da eqüidade.
Euro Zanuzzo
Advogado e Professor
Presidente do PL
(Partido Liberal) no Município de Seara,SC.
Artigo publicado no
Diário Catarinense da sexta-feira, 25 de setembro de 1992.
Nos
últimos tempos, uma série de artigos tem defendido a permanência do que sempre
foi e do que esperam que sempre será.
Não desejo me pronunciar sobre o mérito disto ou daquilo nas
confrontações sobre a formação do Estado do Iguaçu ou a mudança da Capital, mas
sobre as razões destes questionamentos e os motivos pelos quais ás vezes nos
sentimos mais iguaçuanos do que catarinenses propriamente ditos.
O
fato é que existem diferenças inegáveis. O Oeste tem 70 anos apenas e uma
sofrida história-contra um litoral quatrocentão-, e somos já o que somos graças
ao que somos. Contudo, catarinenses somos todos nós. Adoro a bela Ilha e os ilhéus
mesmo sabendo que a História tem provado, a Geografia comprovado e até as fotos
dos satélites confirmado que não temos uma Ilha ao lado de nosso Estado, mas um
“barco pirata” navegando ao largo.
As
obras para nós, oestinos, se arrastam por décadas e quando algo se consegue,
após muitos palanques e promessas, é como um “toma lá”, um presente, uma
dádiva, uma concessão da magnanimidade governamental sediada na privilegiada e
informatizada Ilha.
Então,
nos perguntamos: Será que os números representam uma realidade? Não seria
talvez tempo de o Estado informar aos catarinenses de todos os quadrantes o
quanto arrecada cada região e o quanto é distribuído a cada uma delas?
Estamos
a pedir integração, respeito, eqüidade e principalmente a parcimônia pública
deste barco pirata espoliativo, sanguessuga com direito a canudinho e tudo o
mais, agora representado por belíssimas pontes iluminadas e orofinadas, por onde esperamos
passe a integração e não a “entregação” às traças do destino de tantos e não
menos valentes catarinenses.
Dar
a cada um o que é seu, fazendo-se Justiça, é a isto que chamamos eqüidade.
Alerta, pois, iguaçuanos do último degrau da serra! Elevemos o nosso brado.
Temos consciência de que esta terra tem dono, e somos nós... Ainda estamos a
reivindicar a integração, não a separação.
(Obs-Orofinadas, termo utilizado
em razão do escândalo financeiro envolvendo Miguel Orofino, engenheiro na
construção de nova ponte ligando ilha/continente).
A Monarquia Catarinense e os Bailes
da Ilha Fiscal
Euro Zanuzzo
Uma
prática que já de muito tempo deveria estar abolida e que ainda perdura no “monárcchico regímen” das serventias
catarinenses, onde o mundo dos reinados, pequenos condados e ducados da grande
e vasta família das fidalguias de pais a filhos, de compadres a confrades desde
que lá se estabelecera a privilegiada Desterro
de Nossa Sra. da Pirataria.
Sim, porque
desterrado e ilhado se encontra o Estado. Sim,
porque sempre tivemos ao largo da Costa Catarinense não uma Ilha como pretendem fazer crer sisudos
historiadores com seus velhos óculos de grossas lentes, mas sim uma verdadeira “Nau Pirata” a espoliar e gravar
onerosa e vergonhosamente o Estado desta laboriosa e operária gente catarinense.
Lá
se há de encontrar desde a organizada máfia funcional e fiscal estabelecida,
todo o emaranhado de artimanhas dos pequenos burgos e freguesias na ordem
política, estadual, federal sediada, representativa profissional, sindical,
etc., e tal, proclamando-se de trabalhadores, representantes legítimos de todas
essas classes, com sempre suas amplas e confortáveis sedes sociais e
campestres, piscinas, quadras e salões, bailes e mordomias sustentadas por
polpudos e gratificantes salários da escalada funcional a mercê de nosso
sistemático pagamento de taxas, matrículas, inscrições, emolumentos, etc.
Do
sistema público ao privado, de estatais a entidades ditas classistas,
associações e tudo o mais de organismos incontáveis e inomináveis onde a
monárquica prática do “rei na barriga”
é comum e onde liberdade, igualdade e
fraternidade não passam de meras palavras que lhes pareçam tão francesas
quanto Brigitte Bardot e Paris St. Germain S.C.
Mais agora
neste belo exemplo público, quando nos estertores de um Final de Baile, de mandato monárquico para o voto republicano e uma
nova eleição em vista, nos recriam a noiva sempre iludida, Secretaria de Negócios do Oeste, tal como se joga um osso para os
cachorros no final de uma grande festa.
Interiorizam
somente a falta de vergonha que abunda e grassa desde os porões da nave palaciana até o convés e as velas
manobradas pelo mesmíssimo praticar do sempre de suas mentes caranguejeiras. Santa e Bela Ilha Catarina fundeada no
estupor das âncoras e nas amarras de pontes históricas e tombadas, nau sem
leme, sem governo, sem rumo, tal o bicho caranguejo que lhes é tão similar, não
se sabendo cabeça ou rabo, proa ou popa, frente ou ré.
Enquanto isto
iguaçuanos, curitibanos, praticantes de um contestado que parece jamais findar.
Oeste, norte, sul, interior, planalto e restante da orla litorânea, PAGUEMOS!– Paguemos honrada e
pontualmente nossos tributos à carecida e insaciável monarquia fiscal
estabelecida na gloriosa capital de todos nós catarinenses !
(O presente artigo foi escrito e
enviado para ser publicado pelo Diário Catarinense em 1992, mas que não foi
publicado, quem sabe, por óbvias razões as quais basta ler para se entender)
Ideologias e sonhos Sulinos e Regionais
Tudo
tem a sua razão de ser, o seu nascedouro histórico, as ideias surgidas. Ao
sucedâneo dos fatos, a estas razões ideológicas, agrega-se o desejo autêntico
de uma Liberdade, não dividida, nem isolada, nem conduzida pela força de laços
de uma legitimidade muitas vezes discutível que aí está.
Palco
de muitas divisões e lutas, o Sul do Brasil, jamais o foi Brasil no todo. Aqui
reside uma consciência de origem que se difere. De um lado um sentimento
caboclo, de outro um viril e corajoso procedimento gaúcho. Mito de guerreira
bandeira pampiana, sustentada de lança em punho, no esvoaçar de lenços brancos
e colorados, é sem dúvida, algo de um Brasil diverso, cantado no seu Passado em
versos e guerreiras danças e vivido latente no seu Presente indefinido, em
ideologias mistificadas nos milhares de CTGs e Centros Nativistas que povoam o
Sul e se estendem aqui e lá ao longo do território nacional.
Desde
a terra encontrada, espanhola ou portuguesa, a herança de infindas lutas e
entreveros fronteiriços. Uruguai, Argentina e Paraguai, muito o Sulino viveu e
bebeu desta taça e deste clima de indefinição e isolamento, para que não se lhe
temperasse a alma e fortalecesse os próprios sonhos de grandeza e de condução
de seu destino.
Herança dormente de missioneiros
errantes do saldo de uma República Theocrática Del Guairá, povos das Missões,
reduções Jesuíticas. O sucedâneo da Revolução Farroupilha (1835/45), as guerras
fronteiriças e o caso Cisplatino, contendas e questões limítrofes
internacionais e provinciais. O advento da República, o mando do “café com leite”
até o levante getulista, a Aliança Liberal e o Estado Novo. O repente da
Legalidade na discutível e internacionalizada Revolução/64. Agora, mais
presente, reclamos da flagrante discriminação política, social e econômica
dentro de um contexto federativo manipulado, em tudo o Sul é presente, palco de
questionamentos e reivindicações, mantendo acesa e viva a chama de uma Visão
Inovadora e Idealista.
Hoje, variadas manifestações
ideológicas renascem e afloram, percorrendo a amplitude sulina. Ali é o grito quixotesco
de um gaúcho a erguer a bandeira de uma República dos Pampas. Mais lá, um
fundamentado arrazoado sobre as questões federativas. Alma renascida do
Piratini, somado a efêmera república Juliana em nossa catarinense cidade de Laguna.
Cá estão reclamos de autóctones e caboclos esbulhados a requererem a devolução
de seus toldos, terras e direitos. Lá sequelas da Insurreição Cabocla do
Contestado retornando às suas origens e redutos, com sofridas histórias
recontadas, dramatizadas e cantadas em verso e prosa.
Soma-se o enorme contingente
resultante da mescla europeia imigrante, feita em grande marcha migratória
flutuante, gaúcha, catarinense, paranaense, mato-grossense, povoando e
colonizando uma vastidão territorial quase imensurável. Misto da junção de
sonhos e ideais de Giuseppe Garibaldi e a catarinense Ana de Jesus Ribeiro,
nossa Anita. Tudo e todos partícipes como que de um novo, profético e
sustentado sonho que aflora. O Povo se move. Manifesto esta o desejo, o mito e
a ideologia, que só não veem os que não se permitem ver. Tudo converge para uma
Nova e Necessária Ordem.
No curso dos tempos, até os próprios
cursos mudam. Há que se ver!
Euro
Zanuzzo. Advogado, professor, Presidente do Partido Liberal de Seara,SC.
(1992).
As questões econômicas e a
consciência nacional.
Euro Zanuzzo (1992,
ora reescrito)
A escravidão
foi um estigma e uma necessidade em determinadas épocas do mundo e da evolução
do pensamento humano, assim como a economia das nações sofrem drásticas
modificações no curso dos tempos, tanto que a ascensão e a queda de Impérios é
uma máxima quase que permanente na história evolutiva da humanidade. A Grécia
legou ao mundo a sua cultura, calcada no procedimento escravocrata e restou
conhecida e reconhecida como o chamado “berço da democracia”.
A grande e
livre América da estátua da Liberdade construiu seus ideais de grandeza sobre o
imprescindível trabalho do escravo no conceito de então, e este foi o modelo
padrão que sustentou praticamente todas as nascentes democracias americanas.
Escravidão e liberdade foi joguete de interesses da ordem política, desde a
Guerra da Secessão na América, na primeira República americana do Haiti, tanto
quanto no ensaio republicano Farroupilha no sul do Brasil.
Sofrida guerra
que felizmente não aconteceu no Império Brasileiro em sua ordem geral. Dom
Pedro II, titular de um governo escravocrata, lenta e gradualmente como o
sabemos, evoluiu o seu pensamento abolicionista em consecutivas concessões para
não ferir de morte a Pátria, mergulhando-a em um mar de sangue de seus
patrícios, pois a nação se sustentava pelo braço do escravo e o vil interesse
financeiro de seus senhores.
Entre ver Brasil e Império naufragar tal
fatídico barco em mar de sangue e destruição, optou por necessária e sábia
distensão de procedimentos legais até a abolição planejada e a sabida e
assumida condição de forçado embarque rumo ao exílio.
Perdeu Pedro
II o trono, mas não a vida e a dignidade junto a milhares de brasileiros em
guerra fratricida. Submeteu-se a sã consciência, evitando guerras e confrontos
sangrentos de seu povo. Povo que ainda se ressente de veladas e estúpidas
discriminações raciais no seu organismo social, mas que o bom coração
brasileiro faz com que a cada dia que nasce o sol, se torne esta Pátria mais
morena e maravilhosa.
Certamente perdeu o Brasil uma Monarquia
evolucionista e aberta ao mundo, bem como um reconhecido e vasto Império de
invejável civilização nesta remota América, para retroagir ao de uma República
que se impôs tirânica e que rapidamente minou os seus ideais com a podridão dos
milhares de interesses de tantos quanto puderam fatiar o grande bolo do poder e
riqueza do Rei.
As pessoas e
muito mais as nações, protagonizam através de sua ação política os meios que
consideram aptos a garantia de seu futuro. Getúlio Vargas e o Brasil político
de então, teve na visão da nacionalização de nossos meios de produção uma
alternativa válida para aquela época, mas isto não quer dizer que seja uma
regra e uma opção fixa e imutável tal um dogma a salvo da pira transformadora
das inúmeras teorias e doutrinas econômicas aplicadas pelos países ao longo do
tempo.
Assim, a
manutenção do poder das Estatais e empresas mistas brasileiras, Petrobrás,
Eletrobrás, Caixa, BBrasil, ECT., e etc., com seus vícios de garantia e poder
imutáveis. Assenhoreadas de uma situação de Império e Monopólio legal, sempre
com preços aviltados, entre os maiores do mundo, sustentados por um Povo
escravo, que é o que somos, nos parece já evoluídas o suficiente para receber o
último e necessário golpe rumo ao exílio. Pedros, saibamos que é chegada a hora
de embarcar-nos. Quebrar monopólios, privatizar e organizar sem perder
garantias, internacionalizar para evoluir e render, administração estritamente
financeira, sem ingerências de ordem política, é a ordem da inteligência
econômica que atende melhor ao interesse do país. Percam estes pequenos Reis
seus postos, mantendo a dignidade, brasileiros que se dizem.
Todavia, uma
vez quebradas estas primazias econômicas que estrangulam a economia do País
pelo mau gerenciamento institucionalizado, que não se fatie ou substituam o
poder negociado em imperiais quitandas de bananas a este e aquele,
republiquetas oligárquicas de escusos interesses a explorar a fome histórica
que abate e vitima a dignidade brasileira. Comecemos a cuidar de nosso quintal,
que já é tempo, antes que percamos quintal e a própria casa!
Desde a Petrobrás, Petro quiçá de Pedro, e brás
da brasileira Isabel, filha Redentora, mais uma vez se faz donzela de novo exílio
e martírio político. Que se derrame o negro ouro lapidar que sustenta as bases
da moderna economia, mas que realmente o seja, por um áureo e promissor Brasil
!
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