segunda-feira, 15 de dezembro de 2014



                   TALIAN – NOSTRO VÊNETO BRASILIAN
( Talian-Nosso Vêneto brasileiro)
Observação: O presente artigo foi escrito por Euro Zanuzzo, no ano de 1.998, quando na condição de Presidente da Fundação Cultural de Seara e Diretor da Casa da Cultura Biágio Aurélio Paludo, buscava divulgar aos Searaenses da importância de reativar a Assis, Associação Italiana de Seara, demonstrando o aspecto qualitativo e histórico do Vêneto e do Talian, língua falada por nossa descendência italiana de Seara. Agora, neste ano de 2014, o Talian vem a ser “reconhecido oficialmente”pelo Brasil, como patrimônio histórico cultural brasileiro, e amplamente divulgado pela mídia nacional, a ex. de reportagem do Jornal Hoje da Globo na data de 20.11.2014.           Quero também nesta oportunidade lembrar o nome dos irmãos médicos Drs. Paulo e Enio Massolini que trabalharam na região de Seara e se destacaram no Rio Grande do Sul, como grandes incentivadores do Talian e de seu reconhecimento na ordem oficial brasileira.           Felizmente para nós Searaenses, a cultura italiana através de entidades existentes, festividades e práticas comunitárias, está em plena atividade existencial e a partir deste novo fato de ordem oficial de reconhecimento receberá novo alento.(EuroZanuzzo)
                           
TEXTO: Talian, nostro Vêneto Brasilian.(1998).

         Quando da colonização procedida pela Empresa Colonizadora Rio Branco Ltda., as áreas de propriedade da mesma abrangiam parte da atual Seara, Xavantina e Arvoredo.  Os colonizadores que adquiriram terras da Rio Branco eram praticamente todos de origem italiana e nascidos no Rio Grande do Sul, com raras exceções de italianos natos.  As regiões de procedência destes no Rio Grande do Sul eram as proximidades de Serafina Corrêa, Guaporé, Casca e por sua vez a procedência italiana era das regiões onde se praticavam os dialetos Vêneto, Lombardo e Trentino-Ádige.

         O nosso Oeste Catarinense na condição de uma frente avançada de colonização gaúcha, originária da colonização italiana das regiões denominadas,-“Novíssimas Colônias”, converte-se em uma região agregadora de idiomas, culturas e tradições, um verdadeiro caldeirão sócio-cultural, somatório dos dialetos italianos acrescido de palavras de uso gaúcho, cuja convivência do imigrante italiano na terra Brasil, houve por bem vestir não somente a sua indumentária, língua e costumes, mas na alma e no procedimento das nascentes gerações ficou caracterizada esta miscelânea de ordem cultural.
         A isto tudo nós denominamos “TALIAN”. E como aconteceu o Talian?
         Aconteceu na marcha natural da história.  Com a primeira das células formadoras da sociedade, o casamento, a formação da família. Segue-se o agregamento comunitário, sócio-econômico e político.  Os fatores escola, igreja, clube, vizinhança; o advento da comunicação do rádio, etc. Fatores de ordem formal em razão da Nova Pátria Brasileira.  Fatores de ordem informal e circunstancial da vida como imigrantes e após migrantes colonizadores.
         O Talian se formou feito uma frente flutuante viva de ocupação de novas fronteiras, fazendo acontecer um novo Brasil com a têmpera característica e universal de um Vêneto mesclado com a singular audácia aventureira de um sentimento gaúcho pátrio, que converteu a fronteira oeste de todos Estados Brasileiros a norte do Rio Grande do Sul em um canteiro semeado de realizações e ocupações, garantindo ao Brasil uma fronteira livre, autêntica e genuinamente nacional, com a marca registrada vêneto-brasileira.
         Assim, Oeste Catarinense, e o oeste dos Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas, Amapá e Roraima, e com o acontecer de Brasília, o chamamento ao Planalto Central com Goiás, Tocantins e Sul do Pará cuja presença do elemento é marcante. Esta verdadeira marcha não se indica como uma exclusividade ocupacional e sim que na universalidade da ocupação é visível e acentuada esta presença de procedência ítalo-gaúcha, principalmente frente aos países latino-americanos fronteiriços, marcha de ocupação iniciada no Rio Grande do Sul em sucessivas frentes avançadas e na seqüência das gerações, diferentemente da colonização italiana estabelecida a exemplo do Espírito Santo e São Paulo, mais fixa, mais sedentária e praticamente junto ou próxima à orla litorânea atlântica.

SISTEMA VÊNETO


         Se qualificação há, pode-se dizer que o Vêneto é um sistema de vida.  As tradições estão arraigadas e com desenvoltura própria superaram todas as dificuldades, diversidades e proibições no curso do tempo e do espaço ocupacional.
         Como não fora o Império Austríaco e o tempo de dominação capaz de vencer este sistema quando no solo pátrio, não o foi também toda a distância de ultramar capaz, nem a tradição de seguidas gerações suficientes para fazer fenecer e olvidar esta intrínseca e admirável condição vêneta.
O italiano da região do Vêneto não abandonou a sua língua pátria apesar do imenso amor e trabalho que dedicou e despendeu generosamente para o Brasil, mesmo à mercê de perseguições, desconfiança e proibições sofridas no curso da Segunda Grande Guerra. Conservou os seus dialetos, os seus costumes e tradições sociais e religiosas ao longo das gerações que sucederam e consagrou-se na pátria brasileira formando os seus “paese e città”.
 Particularmente Seara, nascida  originalmente “Nova Milano” uma das sedes projetadas pela Colonizadora Rio Branco de povoamento a partir de 1927, ao alçar a condição oficial de Distrito do Município de Concórdia,(1944) foi proibida da manutenção do nome Milano que referendava cidade de país inimigo na guerra, escolhendo então o também gracioso nome de “Seara”.
        
VÊNETO, UMA HISTÓRIA DE TRADIÇÃO E ORGULHO.

         São infelizes e totalmente inapropriadas as considerações de ordem pejorativa e vulgar que se fazem aos costumes, às tradições e principalmente as relacionadas com a língua veneta, nosso Talian, em razão de suas características diversas do português, bem como colocações pejorativas atribuídas a ítalo-brasileiros de uma forma geral.
É como um que de dar-se atenção para as exigências dos nossos índios do Brasil que estranhavam e queriam que portugueses usassem o seu “Ava nhenhém”, isto é, que falassem “língua de gente” no seu primitivo conceito.
  O Vêneto como tal pode ser escrito com letra maiúscula e comparado ao contexto dito latino do qual descendemos e do qual descende grande quota do mundo ocidental, podemos qualificá-lo como o que existe de mais primoroso, histórico e original no desenvolvimento cultural, político e social.  Não fosse assim, Vêneto, de bem antes da Roma conhecida, já era citado e agraciado por nada mais e nem menos que “Homero”, (850 a C), o Pai da História conhecida no mundo ocidental, classificando os vênetos, aliados dos troianos na guerra helênica, como “... um povo nobre e magnânimo”.
         Dos seus registros conhecidos, o Vêneto, no século III aC., cunha suas primeiras moedas mostrando numa face o leão alado, símbolo veneziano e Reithia, culto a imagem de mulher e mãe, deusa e rainha.
         São desconhecidos eventuais conflitos entre romanos e vênetos e o que se conhece é um intercâmbio de respeito e espontânea união de propósitos até em razão de interesses e objetivos comuns. Assim, em 49 aC, com Caio Julio Cesar, lhes foi assegurada a cidadania romana. A língua veneta a partir de então perde cada vez mais sua identidade até adotar o Latim que ajudou a formar, então se diz que a República Veneziana tinha como língua oficial o Latim. Assim permanece nesta condição até 1866 quando se incorpora voluntariamente ao Reino Italiano, passando então a uma similar condição de dialeto italiano.
         Depois, como aliados de Roma, conquistadores do Mundo Antigo, foi o Vêneto mais uma garantia da supremacia romana, tendo mantido ao longo do tempo uma situação de invejável independência e privilégios.
         Destruída a região nas invasões de bárbaros sofridas pelo Império Romano em 602 e 639 d.C., soergueu-se e domesticando a barbárie com a força e a inteligência de sua civilização, escolhe em 697 d.C., o 1o. Doge de Veneza, inaugurando a partir daí um milênio de grandezas históricas como Cidade-Estado, desenvolvendo-se de tal forma que restou conhecida no mundo de então como a “Sereníssima República de Veneza”, um país livre, culto, rico, nobre e poderoso, muitas vezes avalista de negócios entre nações, intermediário nos negócios com a Liga Hanseática, foi Veneza muito antes dos Reinos Germânicos, da França, da Espanha e do nascente Portugal, considerada como o centro do comércio e do espírito de democracia e liberdade, a senhora absoluta do Adriático.      
         No mundo latino e próximo não havia nação que gozasse de tal prestígio, credibilidade e importância que tinha a “República de Veneza”. Somente a saga militar de um Napoleão, Imperador Francês de procedência italiana da Córsega, é que viria a retirar-lhe a autonomia política em 1797 quando passou a fazer parte da Itália até 1815, ano de formação do Reino Lombardo-Vêneto, até sua real unificação em 1866 com o Reino da Itália, onde participou nesta luta Giuseppe Garibaldi e a nossa catarinense de Laguna, Anita de Jesus Ribeiro, Anita Garibaldi.
         Podemos nós, os vênetos de origem como os da Sede Nova Milano (atual cidade de Seara), nos orgulhar de nossa procedência, de nossa origem, história e tradição.  O menosprezo de quem quer que seja no que se reporte ao “Talian”, é no mínimo uma demonstração de extrema ignorância.

         O “Talian” é língua.  O Vêneto-brasileiro é o “Talian”.  Só temos a nos orgulhar de nossas origens e de nossa língua, onde não se pronuncia “dois erres”, nem o “g” antes do “e” e o “i”, como caso da pronúncia de “guera” em vez de guerra, e “Zozé” em vez de José.  Estas apenas são diferenças lingüísticas e sem demérito ao Português que é uma língua muito mais jovem, centena de anos, como foi dito em soneto por Olavo Bilac: “... última flor do Lácio, inculta e bela, és ao mesmo tempo esplendor e sepultura...”, é o Vêneto considerado uma língua irmã e a um só tempo, também, formadora do Latim, esta sim já uma língua morta, e se nos referirmos a origem primeira, terá no mínimo uma certa idade a mais daquela do surgimento de Homero,(850 aC) “Pai da História”, que cita e gratifica a existência vêneta nos seus primeiros registros históricos.    (Euro Zanuzzo)

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