TALIAN
– NOSTRO VÊNETO BRASILIAN
( Talian-Nosso Vêneto
brasileiro)
Observação: O presente
artigo foi escrito por Euro Zanuzzo, no ano de 1.998, quando na condição de
Presidente da Fundação Cultural de Seara e Diretor da Casa da Cultura Biágio
Aurélio Paludo, buscava divulgar aos Searaenses da importância de reativar a
Assis, Associação Italiana de Seara, demonstrando o aspecto qualitativo e
histórico do Vêneto e do Talian, língua falada por nossa descendência italiana
de Seara. Agora, neste ano de 2014, o Talian vem a ser “reconhecido
oficialmente”pelo Brasil, como patrimônio histórico cultural brasileiro, e
amplamente divulgado pela mídia nacional, a ex. de reportagem do Jornal Hoje da
Globo na data de 20.11.2014.
Quero também nesta oportunidade lembrar o nome dos irmãos médicos Drs.
Paulo e Enio Massolini que trabalharam na região de Seara e se destacaram no
Rio Grande do Sul, como grandes incentivadores do Talian e de seu
reconhecimento na ordem oficial brasileira. Felizmente para nós Searaenses, a cultura
italiana através de entidades existentes, festividades e práticas comunitárias,
está em plena atividade existencial e a partir deste novo fato de ordem oficial
de reconhecimento receberá novo alento.(EuroZanuzzo)
TEXTO: Talian, nostro Vêneto Brasilian.(1998).
Quando da
colonização procedida pela Empresa Colonizadora Rio Branco Ltda., as áreas de
propriedade da mesma abrangiam parte da atual Seara, Xavantina e Arvoredo. Os colonizadores que adquiriram terras da Rio
Branco eram praticamente todos de origem italiana e nascidos no Rio Grande do
Sul, com raras exceções de italianos natos.
As regiões de procedência destes no Rio Grande do Sul eram as
proximidades de Serafina Corrêa, Guaporé, Casca e por sua vez a procedência
italiana era das regiões onde se praticavam os dialetos Vêneto, Lombardo e
Trentino-Ádige.
O
nosso Oeste Catarinense na condição de uma frente avançada de colonização
gaúcha, originária da colonização italiana das regiões denominadas,-“Novíssimas
Colônias”, converte-se em uma região agregadora de idiomas, culturas e
tradições, um verdadeiro caldeirão sócio-cultural, somatório dos dialetos
italianos acrescido de palavras de uso gaúcho, cuja convivência do imigrante
italiano na terra Brasil, houve por bem vestir não somente a sua indumentária,
língua e costumes, mas na alma e no procedimento das nascentes gerações ficou
caracterizada esta miscelânea de ordem cultural.
A isto
tudo nós denominamos “TALIAN”. E como aconteceu o Talian?
Aconteceu
na marcha natural da história. Com a
primeira das células formadoras da sociedade, o casamento, a formação da
família. Segue-se o agregamento comunitário, sócio-econômico e político. Os fatores escola, igreja, clube, vizinhança;
o advento da comunicação do rádio, etc. Fatores de ordem formal em razão da
Nova Pátria Brasileira. Fatores de ordem
informal e circunstancial da vida como imigrantes e após migrantes
colonizadores.
O
Talian se formou feito uma frente flutuante viva de ocupação de novas
fronteiras, fazendo acontecer um novo Brasil com a têmpera característica e
universal de um Vêneto mesclado com a singular audácia aventureira de um
sentimento gaúcho pátrio, que converteu a fronteira oeste de todos Estados
Brasileiros a norte do Rio Grande do Sul em um canteiro semeado de realizações
e ocupações, garantindo ao Brasil uma fronteira livre, autêntica e genuinamente
nacional, com a marca registrada vêneto-brasileira.
Assim,
Oeste Catarinense, e o oeste dos Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas, Amapá e Roraima, e com o acontecer de
Brasília, o chamamento ao Planalto Central com Goiás, Tocantins e Sul do Pará
cuja presença do elemento é marcante. Esta verdadeira marcha não se indica como
uma exclusividade ocupacional e sim que na universalidade da ocupação é visível
e acentuada esta presença de procedência ítalo-gaúcha, principalmente frente
aos países latino-americanos fronteiriços, marcha de ocupação iniciada no Rio
Grande do Sul em sucessivas frentes avançadas e na seqüência das gerações,
diferentemente da colonização italiana estabelecida a exemplo do Espírito Santo
e São Paulo, mais fixa, mais sedentária e praticamente junto ou próxima à orla
litorânea atlântica.
SISTEMA VÊNETO
Se
qualificação há, pode-se dizer que o Vêneto é um sistema de vida. As tradições estão arraigadas e com
desenvoltura própria superaram todas as dificuldades, diversidades e proibições
no curso do tempo e do espaço ocupacional.
Como
não fora o Império Austríaco e o tempo de dominação capaz de vencer este sistema
quando no solo pátrio, não o foi também toda a distância de ultramar capaz, nem
a tradição de seguidas gerações suficientes para fazer fenecer e olvidar esta
intrínseca e admirável condição vêneta.
O italiano da região do
Vêneto não abandonou a sua língua pátria apesar do imenso amor e trabalho que
dedicou e despendeu generosamente para o Brasil, mesmo à mercê de perseguições,
desconfiança e proibições sofridas no curso da Segunda Grande Guerra. Conservou
os seus dialetos, os seus costumes e tradições sociais e religiosas ao longo
das gerações que sucederam e consagrou-se na pátria brasileira formando os seus
“paese e città”.
Particularmente Seara, nascida originalmente “Nova Milano” uma das sedes
projetadas pela Colonizadora Rio Branco de povoamento a partir de 1927, ao
alçar a condição oficial de Distrito do Município de Concórdia,(1944) foi
proibida da manutenção do nome Milano que referendava cidade de país inimigo na
guerra, escolhendo então o também gracioso nome de “Seara”.
VÊNETO, UMA HISTÓRIA DE
TRADIÇÃO E ORGULHO.
São
infelizes e totalmente inapropriadas as considerações de ordem pejorativa e
vulgar que se fazem aos costumes, às tradições e principalmente as relacionadas
com a língua veneta, nosso Talian, em razão de suas características diversas do
português, bem como colocações pejorativas atribuídas a ítalo-brasileiros de
uma forma geral.
É como um que de dar-se
atenção para as exigências dos nossos índios do Brasil que estranhavam e
queriam que portugueses usassem o seu “Ava nhenhém”, isto é, que falassem
“língua de gente” no seu primitivo conceito.
O Vêneto como tal pode ser escrito com letra
maiúscula e comparado ao contexto dito latino do qual descendemos e do qual
descende grande quota do mundo ocidental, podemos qualificá-lo como o que
existe de mais primoroso, histórico e original no desenvolvimento cultural,
político e social. Não fosse assim,
Vêneto, de bem antes da Roma conhecida, já era citado e agraciado por nada mais
e nem menos que “Homero”, (850 a C), o Pai da História conhecida no mundo
ocidental, classificando os vênetos, aliados dos troianos na guerra helênica,
como “... um povo nobre e magnânimo”.
Dos
seus registros conhecidos, o Vêneto, no século III aC., cunha suas primeiras
moedas mostrando numa face o leão alado, símbolo veneziano e Reithia, culto a
imagem de mulher e mãe, deusa e rainha.
São
desconhecidos eventuais conflitos entre romanos e vênetos e o que se conhece é
um intercâmbio de respeito e espontânea união de propósitos até em razão de
interesses e objetivos comuns. Assim, em 49 aC, com Caio Julio Cesar, lhes foi
assegurada a cidadania romana. A língua veneta a partir de então perde cada vez
mais sua identidade até adotar o Latim que ajudou a formar, então se diz que a
República Veneziana tinha como língua oficial o Latim. Assim permanece nesta
condição até 1866 quando se incorpora voluntariamente ao Reino Italiano,
passando então a uma similar condição de dialeto italiano.
Depois,
como aliados de Roma, conquistadores do Mundo Antigo, foi o Vêneto mais uma garantia
da supremacia romana, tendo mantido ao longo do tempo uma situação de invejável
independência e privilégios.
Destruída
a região nas invasões de bárbaros sofridas pelo Império Romano em 602 e 639
d.C., soergueu-se e domesticando a barbárie com a força e a inteligência de sua
civilização, escolhe em 697 d.C., o 1o. Doge de Veneza, inaugurando
a partir daí um milênio de grandezas históricas como Cidade-Estado,
desenvolvendo-se de tal forma que restou conhecida no mundo de então como a
“Sereníssima República de Veneza”, um país livre, culto, rico, nobre e
poderoso, muitas vezes avalista de negócios entre nações, intermediário nos
negócios com a Liga Hanseática, foi Veneza muito antes dos Reinos Germânicos,
da França, da Espanha e do nascente Portugal, considerada como o centro do
comércio e do espírito de democracia e liberdade, a senhora absoluta do
Adriático.
No
mundo latino e próximo não havia nação que gozasse de tal prestígio,
credibilidade e importância que tinha a “República de Veneza”. Somente a saga
militar de um Napoleão, Imperador Francês de procedência italiana da Córsega, é
que viria a retirar-lhe a autonomia política em 1797 quando passou a fazer
parte da Itália até 1815, ano de formação do Reino Lombardo-Vêneto, até sua
real unificação em 1866 com o Reino da Itália, onde participou nesta luta
Giuseppe Garibaldi e a nossa catarinense de Laguna, Anita de Jesus Ribeiro,
Anita Garibaldi.
Podemos
nós, os vênetos de origem como os da Sede Nova Milano (atual cidade de Seara),
nos orgulhar de nossa procedência, de nossa origem, história e tradição. O menosprezo de quem quer que seja no que se
reporte ao “Talian”, é no mínimo uma demonstração de extrema ignorância.
O
“Talian” é língua. O Vêneto-brasileiro é
o “Talian”. Só temos a nos orgulhar de
nossas origens e de nossa língua, onde não se pronuncia “dois erres”, nem o “g”
antes do “e” e o “i”, como caso da pronúncia de “guera” em vez de guerra, e
“Zozé” em vez de José. Estas apenas são
diferenças lingüísticas e sem demérito ao Português que é uma língua muito mais
jovem, centena de anos, como foi dito em soneto por Olavo Bilac: “... última
flor do Lácio, inculta e bela, és ao mesmo tempo esplendor e sepultura...”, é o
Vêneto considerado uma língua irmã e a um só tempo, também, formadora do Latim,
esta sim já uma língua morta, e se nos referirmos a origem primeira, terá no
mínimo uma certa idade a mais daquela do surgimento de Homero,(850 aC) “Pai da
História”, que cita e gratifica a existência vêneta nos seus primeiros
registros históricos. (Euro Zanuzzo)
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