quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Interesses Searaenses


         Ao curso do tempo, depois de formado e advogando, principalmente na cidade de Concórdia, já casado com minha esposa Ana, professora dedicada que em tudo me ajudou e sempre me apoiou, que “Deus a tenha!”, enfim, nós tínhamos a preocupação em trazer a público as necessidades de Seara no contexto regional e de uma forma ou outra reivindica-las. Uma das maneiras, eram artigos escritos nos jornais existentes, como é o caso do “O Jornal” de Concórdia, e após outros.
       Então alguém pensará... -Mas, o que fizeram?..., O que ele fez?! – NADA! – Bem, nunca foi minha preocupação elogios ou louvores, títulos e agrados. Não faz minha cabeça este tipo de coisas. Sempre vivi de forma despreocupada e singela, dono de meu nariz, tive grande apreço aos meus amigos, não me preocupei com eventuais inimigos ou pessoas que discordassem de meu pensamento e atitudes.



Ana Medeiros Zanuzzo e Euro Zanuzzo


        Segui a orientação de meu Pai Herculano. “Herculano, escoteiro!”, ele dizia. Então segui sua trilha, sempre alerta! Assim, escrevia artigos quando havia ou sentia interesse em me manifestar como Searaense, dizendo de minhas preocupações por ver e acontecer, a exemplo dos que seguem. Mas antes, teço algumas considerações.

        Verdade seja dita, havia pessoas em nossa Seara, que eram contra o progresso, a exemplo de abertura de estradas e asfaltamento. Assim, não queriam estrada boa pra Chapecó, sob alegação que iria prejudicar o “comercio” de Seara. Heia! Novela do asfalto! Tão custoso foi. Projeto, Execução em etapas. Amin, Pedro Ivo, Maldaner, Kleinubing. Saída de Chapecó!, até o Irani e Ariranha. Depois até as “saudosas zonas da Trago, Bolica, Berno e Maninha”, ou seja, saída para Xavantina e Xanxerê, para os desmemoriados e pudicos, e finalmente, o “Deus nos acuda” da fatídica descida até Seara e a 03 de abril. Mas lá está, pronto, enfim. Então, repasso alguns artigos daquela época, ex. Ideal Searaense, Encontro de gigantes, Dissabores da Independência., alguns, para dizer “aos de hoje” de nossa preocupação no ontem. 

Herculano H. Zanuzzo e Euro.

O IDEAL SEARAENSE

Euro Zanuzzo


...”Plantei esta roseira um dia,
            Para uma única e natural finalidade.
                A de quando, Eu, não mais for...e então,também
                  plantem-me ! Seja, cinco, seis ou sete pés,
                   o quanto for suficiente, aos pés de minha
                   ingênua roseira, e a cada rosa., rosasserei !


            É assim. Nas curvas de nosso destino, o descarrilar dos nossos ideais. São os sonhos, as ambições, vãs vaidades, consumidas e queimadas na pira de uma vivência.
            Foram os botões que não floresceram na velha e cansada roseira, mas que ainda no verde esperançoso que lhe resta, fica a nos prometer o sonho de uma rosa esplendor. Aquela, da primeira-vera. A primavera que há por vir, tempo e estação de um sonho maior que deve acalentar e nos renovar o espírito searaense.
            Já o disse e torno a repetir à exaustão se preciso for. Esta terra tem dono. Esta é a Seara dos seareiros. E a Seara é de quem a cultiva, desde os nossos antepassados que desbravaram este sagrado chão e aqui ergueram o seu Lar. A nós cabe prosseguir com diurna, diuturna atenção e desvelo, para que também possamos legar à nossa descendência uma Seara de mais talentos.
            Recordo-me e bem dos então candidatos a Prefeito e Vice, Flávio e Valdir, sustentando nas praças e campanha uma promessa maior. Que Seara deixe de ser apenas um ponto no mapa político catarinense, entre *Este e Aquele referencial. Assim definiam sua filosofia política de independência de destino e parafraseavam talvez sem que o quisessem, para a história, aquela às vezes esquecida, porém sempre atual declaração da doutrina de Monroe, “a América, para os americanos”.
            Tenhamos sempre viva em nossa mente esta pré-disposição. A Seara é para os Searaenses, gritando bem alto – “Esta terra tem dono ! “. E, então, certamente, Velhas Roseiras irão novamente sorrir trazendo-nos rosas crianças para renovar, perfumar e colorir os nossos ideais maiores de existência. Plantemos, pois...


(*Este e Aquele – Concórdia e Chapecó)

                  Eolo Seara e Moreno Sol na praça Dr.Harry Q. Oliveira

Um encontro de gigantes.

Euro Zanuzzo.


            Conhecemos a nossa realidade e ninguém melhor que nós. Ainda ressoa no meu ouvido aquele fora de uma garota que me disse: “Vá, vai rolar tuas pedras lá nos morros de Seara !”. Não foi fácil. Nunca esqueci e nem se pode esquecer tamanha pancada.
            Fato é. Disse verdade. São pedras, grotões, aclives e declives, curvas de se poder ler a placa traseira do próprio carro, e aquela sempre presente jaculatória do motorista “Na subida Deus me ajuda, na descida, Deus me acuda!”. Coisa, até dita, impraticável. Mas Eu digo que Não. É preciso ser Gigante para se habitar uma Terra de Gigantes. E o nosso agricultor, o seareiro das nossas searas são verdadeiros gigantes na força de vontade, no brio e na fé. Fé por dias melhores de um vir a ser. Trabalhando o progresso, ainda à margem do progresso. À beira do caminho, comendo pó, esperando a *linha, esperando... Tudo isto na seara dita que é a seara dos melhores cereais.
            E, ouço que falam em prioridades disto e aquilo. Pois, prioridades se dão a quem as merece. Façam-se as estatísticas, conheçam a nossa realidade. Nós, a conhecemos, às duras penas, construímos. Não se abandona um celeiro em meio ao mato. Venha comigo percorrer os 43 km da estrada Seara X Chapecó e vejam a razão de se falar em gigantes, em Fé. Se esta estrada fosse minha eu mandava asfaltar. Para um encontro, um abraço de Gigantes, o nosso gigante Seareiro e o gigante Índio Condá. AMIM, creio, há de querer registrar este encontro para os anais da posteridade.
            Alerta ! pois, IGUAÇUANOS deste último degrau de serra, à beira do rio Uruguai, elevemos o nosso brado. Temos consciência que esta terra tem dono, e SOMOS NÓS. Ainda estamos a reivindicar a Integração, não a Separação.
            Aguardemos, Olhos acesos, Rolando nossas pedras !

             Euro Zanuzzo, em 07/02/1985, publicado no “O Jornal” de Concórdia (reivindicação para estrada Seara Chapecó, asfaltada).  Obs. * Linha (regionalismo de denominação de ônibus). AMIM, Esperidião Amim, Governador do Estado.


DISSABORES DA INDEPENDÊNCIA.
                                                                    Euro Zanuzzo.



            Toda liberdade tem o seu preço e liberdades são conquistas sociais que custam e são debitadas a individualidade.
            Ah!..,quanto nos custa erguer a voz e clamar contra uma injustiça. Bem melhor seria fazer de conta que não se viu, não se ouviu, não se sabe...
            Tento fugir. Debato-me contra a própria consciência, mas ela me arma o laço e lá vou Eu, pialado, arrastado, maneteado, preso o coração, os sentidos, todos sentidos por seguirem meu desinteresse social.
            Mas, Eu não me interesso por Política. Mas Eu não me interesso por Dinheiro. Mas Eu não me interesso pelo que pensem de Mim. Tudo isto Eu tenho dito e repetido para os Outros e principalmente para Mim mesmo, a ponto de congestionar e inviabilizar meu procedimento, exatamente em razão do outro lado dos Outros e do Outro lado de mim. Deu para entender?! – Não deu?! Mas é isto mesmo. É assim.
            Dilemas da independência, da individualidade, da liberdade. Querer ser Eu, sem ter permissão para sê-lo. É necessário pedir licença para Ser.
            “Euro ! Você não deveria dizer Isto. Você não deveria fazer Aquilo. Você deveria se vestir como um Doutor que é. Você não deveria estar Fora do Sistema. Você.., Advogado, tocando um Bar e Lanchonete?!. Você, Professor, por uns míseros *CZ$14.000,00 por mês?!., Você, Duro de Trago?!...
            Mas, pergunto Eu agora. “O que acontece com vocês de Seara, meus Amigos e eventuais Inimigos. Será que eu também lhes poderia oferecer um conselho.., -“Vão Vocês para Pasárgada. Lá Vocês serão amigos do Rei. Eu detesto Reis. Como alguém já o disse, “Meu Reino não é deste Mundo!”. Também não é do outro e muito menos, é Meu. Vão vocês reinar lá...
            Deixem de me oferecer conselhos para melhorar de Vida. Eu não quero e não desejo este tipo de Política e esta espécie de Dinheiro. Todos, qualquer um, pode comprar o meu Trabalho, mas não a minha Voz, muito menos o resto dos meu cabelos e da minha vergonha.  Searaense, sim, mas jamais um Velhaco searaense. Eu quero apenas Estar em Seara, deixem-me ficar, deixem-me estar, sem se preocuparem com meu Bem-estar, que não pedi a Ninguém.
            Recado dado. Mesa posta. Digiram. EU fico com o Dissabor.


Obs.* CZ$.. Era o tempo dos Cruzados e após cruzados novos.Fev.1989


                                Euro e Ana - Baile Rotary - SER Searaense 


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