Interesses Searaenses
Ao
curso do tempo, depois de formado e advogando, principalmente na cidade de
Concórdia, já casado com minha esposa Ana, professora dedicada que em tudo me
ajudou e sempre me apoiou, que “Deus a tenha!”, enfim, nós tínhamos a
preocupação em trazer a público as necessidades de Seara no contexto regional e
de uma forma ou outra reivindica-las. Uma das maneiras, eram artigos escritos
nos jornais existentes, como é o caso do “O Jornal” de Concórdia, e após
outros.
Então
alguém pensará... -Mas, o que fizeram?..., O que ele fez?! – NADA! – Bem, nunca
foi minha preocupação elogios ou louvores, títulos e agrados. Não faz minha
cabeça este tipo de coisas. Sempre vivi de forma despreocupada e singela, dono
de meu nariz, tive grande apreço aos meus amigos, não me preocupei com
eventuais inimigos ou pessoas que discordassem de meu pensamento e atitudes.
Ana Medeiros Zanuzzo e Euro Zanuzzo
Segui
a orientação de meu Pai Herculano. “Herculano, escoteiro!”, ele dizia. Então
segui sua trilha, sempre alerta! Assim, escrevia artigos quando havia ou sentia
interesse em me manifestar como Searaense, dizendo de minhas preocupações por
ver e acontecer, a exemplo dos que seguem. Mas antes, teço algumas
considerações.
Verdade
seja dita, havia pessoas em nossa Seara, que eram contra o progresso, a exemplo
de abertura de estradas e asfaltamento. Assim, não queriam estrada boa pra
Chapecó, sob alegação que iria prejudicar o “comercio” de Seara. Heia! Novela
do asfalto! Tão custoso foi. Projeto, Execução em etapas. Amin, Pedro Ivo,
Maldaner, Kleinubing. Saída de Chapecó!, até o Irani e Ariranha. Depois até as
“saudosas zonas da Trago, Bolica, Berno e Maninha”, ou seja, saída para
Xavantina e Xanxerê, para os desmemoriados e pudicos, e finalmente, o “Deus nos
acuda” da fatídica descida até Seara e a 03 de abril. Mas lá está, pronto,
enfim. Então, repasso alguns artigos daquela época, ex. Ideal Searaense,
Encontro de gigantes, Dissabores da Independência., alguns, para dizer “aos de
hoje” de nossa preocupação no ontem.
O IDEAL SEARAENSE
Euro Zanuzzo
...”Plantei esta roseira um dia,
Para uma única e natural finalidade.
A de
quando, Eu, não mais for...e então,também
plantem-me ! Seja, cinco,
seis ou sete pés,
o quanto for suficiente, aos
pés de minha
ingênua roseira, e a cada rosa., rosasserei !
É
assim. Nas curvas de nosso destino, o descarrilar dos nossos ideais. São os
sonhos, as ambições, vãs vaidades, consumidas e queimadas na pira de uma
vivência.
Foram
os botões que não floresceram na velha e cansada roseira, mas que ainda no
verde esperançoso que lhe resta, fica a nos prometer o sonho de uma rosa esplendor.
Aquela, da primeira-vera. A primavera que há por vir, tempo e estação de um
sonho maior que deve acalentar e nos renovar o espírito searaense.
Já
o disse e torno a repetir à exaustão se preciso for. Esta terra tem dono. Esta
é a Seara dos seareiros. E a Seara é de quem a cultiva, desde os nossos
antepassados que desbravaram este sagrado chão e aqui ergueram o seu Lar. A nós
cabe prosseguir com diurna, diuturna atenção e desvelo, para que também
possamos legar à nossa descendência uma Seara de mais talentos.
Recordo-me
e bem dos então candidatos a Prefeito e Vice, Flávio e Valdir, sustentando nas
praças e campanha uma promessa maior. Que Seara deixe de ser apenas um ponto no
mapa político catarinense, entre *Este e Aquele referencial. Assim definiam sua
filosofia política de independência de destino e parafraseavam talvez sem que o
quisessem, para a história, aquela às vezes esquecida, porém sempre atual
declaração da doutrina de Monroe, “a América, para os americanos”.
Tenhamos
sempre viva em nossa mente esta pré-disposição. A Seara é para os Searaenses,
gritando bem alto – “Esta terra tem dono ! “. E, então, certamente, Velhas
Roseiras irão novamente sorrir trazendo-nos rosas crianças para renovar,
perfumar e colorir os nossos ideais maiores de existência. Plantemos, pois...
(*Este e Aquele –
Concórdia e Chapecó)
Eolo Seara e Moreno Sol na praça Dr.Harry Q. Oliveira
Um encontro de gigantes.
Euro Zanuzzo.
Conhecemos
a nossa realidade e ninguém melhor que nós. Ainda ressoa no meu ouvido aquele
fora de uma garota que me disse: “Vá, vai rolar tuas pedras lá nos morros de
Seara !”. Não foi fácil. Nunca esqueci e nem se pode esquecer tamanha pancada.
Fato
é. Disse verdade. São pedras, grotões, aclives e declives, curvas de se poder
ler a placa traseira do próprio carro, e aquela sempre presente jaculatória do
motorista “Na subida Deus me ajuda, na descida, Deus me acuda!”. Coisa, até
dita, impraticável. Mas Eu digo que Não. É preciso ser Gigante para se habitar
uma Terra de Gigantes. E o nosso agricultor, o seareiro das nossas searas são
verdadeiros gigantes na força de vontade, no brio e na fé. Fé por dias melhores
de um vir a ser. Trabalhando o progresso, ainda à margem do progresso. À beira
do caminho, comendo pó, esperando a *linha, esperando... Tudo isto na seara
dita que é a seara dos melhores cereais.
E,
ouço que falam em prioridades disto e aquilo. Pois, prioridades se dão a quem
as merece. Façam-se as estatísticas, conheçam a nossa realidade. Nós, a
conhecemos, às duras penas, construímos. Não se abandona um celeiro em meio ao
mato. Venha comigo percorrer os 43
km da estrada Seara X Chapecó e vejam a razão de se
falar em gigantes, em Fé. Se
esta estrada fosse minha eu mandava asfaltar. Para um encontro, um abraço de
Gigantes, o nosso gigante Seareiro e o gigante Índio Condá. AMIM, creio, há de
querer registrar este encontro para os anais da posteridade.
Alerta
! pois, IGUAÇUANOS deste último degrau de serra, à beira do rio Uruguai,
elevemos o nosso brado. Temos consciência que esta terra tem dono, e SOMOS NÓS.
Ainda estamos a reivindicar a Integração, não a Separação.
Aguardemos,
Olhos acesos, Rolando nossas pedras !
Euro Zanuzzo, em 07/02/1985, publicado no “O
Jornal” de Concórdia (reivindicação para estrada Seara Chapecó, asfaltada). Obs. * Linha (regionalismo de denominação de
ônibus). AMIM, Esperidião Amim, Governador do Estado.
DISSABORES DA INDEPENDÊNCIA.
Euro
Zanuzzo.
Toda
liberdade tem o seu preço e liberdades são conquistas sociais que custam e são
debitadas a individualidade.
Ah!..,quanto
nos custa erguer a voz e clamar contra uma injustiça. Bem melhor seria fazer de
conta que não se viu, não se ouviu, não se sabe...
Tento
fugir. Debato-me contra a própria consciência, mas ela me arma o laço e lá vou
Eu, pialado, arrastado, maneteado, preso o coração, os sentidos, todos sentidos
por seguirem meu desinteresse social.
Mas,
Eu não me interesso por Política. Mas Eu não me interesso por Dinheiro. Mas Eu
não me interesso pelo que pensem de Mim. Tudo isto Eu tenho dito e repetido
para os Outros e principalmente para Mim mesmo, a ponto de congestionar e
inviabilizar meu procedimento, exatamente em razão do outro lado dos Outros e
do Outro lado de mim. Deu para entender?! – Não deu?! Mas é isto mesmo. É
assim.
Dilemas
da independência, da individualidade, da liberdade. Querer ser Eu, sem ter
permissão para sê-lo. É necessário pedir licença para Ser.
“Euro
! Você não deveria dizer Isto. Você não deveria fazer Aquilo. Você deveria se
vestir como um Doutor que é. Você não deveria estar Fora do Sistema. Você..,
Advogado, tocando um Bar e Lanchonete?!. Você, Professor, por uns míseros *CZ$14.000,00
por mês?!., Você, Duro de Trago?!...
Mas,
pergunto Eu agora. “O que acontece com vocês de Seara, meus Amigos e eventuais
Inimigos. Será que eu também lhes poderia oferecer um conselho.., -“Vão Vocês
para Pasárgada. Lá Vocês serão amigos do Rei. Eu detesto Reis. Como alguém já o
disse, “Meu Reino não é deste Mundo!”. Também não é do outro e muito menos, é
Meu. Vão vocês reinar lá...
Deixem
de me oferecer conselhos para melhorar de Vida. Eu não quero e não desejo este
tipo de Política e esta espécie de Dinheiro. Todos, qualquer um, pode comprar o
meu Trabalho, mas não a minha Voz, muito menos o resto dos meu cabelos e da
minha vergonha. Searaense, sim, mas
jamais um Velhaco searaense. Eu quero apenas Estar em Seara, deixem-me ficar,
deixem-me estar, sem se preocuparem com meu Bem-estar, que não pedi a Ninguém.
Recado
dado. Mesa posta. Digiram. EU fico com o Dissabor.
Obs.* CZ$.. Era o tempo dos
Cruzados e após cruzados novos.Fev.1989
Euro e Ana - Baile Rotary - SER Searaense
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